domingo, agosto 23, 2009

finally, NY

New York was an inexhaustible space, a labyrinth of endless steps, and no matter how far he walked, no matter how well he came to know its neighborhoods and streets, it always left him with the feeling of being lost. Lost, not only in the city, but within himself.

(E continua.)

Each time he took a walk, he felt as though he were leaving himself behind, and by giving himself up to the movement of the streets, by reducing himself to a seeing eye, he was able to escape the obligation to think, and this more than anything else, brought him a measure of peace, a salutary emptiness within. The world was outside of him, around him, before him, and the speed with which it kept changing made it possible for him to dwell on any one thing for bery long. Motion was of the essence, the act of putting one foot in front of the other and allowing himself to follow the drift of his own body. By wondering aimlessly, all places became equal, and it no longer mattered where he was. On his best walks, he was able to feel that he was nowhere. New York was the nowhere he had built around himself, and he realized that he had no intention of ever leaving it again.

Paul Auster
The New York Trilogy -- City of Glass
(Penguin Classics)

sábado, janeiro 12, 2008

O imbecil e A liberdade

"Hesitante, conservando-se à margem da batalha, Bernard pensou: 'Eles estão perdidos' e, movido por um impulso repentino, correu para a frente em seu auxílio; depois reconsiderou outra vez, e ali estava numa agonia de indecisão humilhada -- pensando que eles poderiam ser mortos se não ajudasse e que ele se expunha a sofrer o mesmo fim se o fizesse -- quando (Ford seja louvado!), com os olhos redondos e o focinho de porco das máscaras contra gases, os policiais irromperam no local."

"-- Porque o nosso mundo não é o mesmo mundo de Otelo. Não se pode fazer um calhambeque sem aço, e não se pode fazer uma tragédia sem instabilidade social. O mundo agora é estável. As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o que não podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não têm medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; não têm esposas, nem filhos, nem amantes, por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem. E se, por acaso, alguma coisa andar mal, há o soma. Que o senhor atira pela janela em nome da liberdade, Sr. Selvagem. Da liberdade! -- Riu. -- Espera que os Deltas saibam o que é liberdade! E agora quer que eles compreendam Otelo! Meu caro jovem!"

Aldous Huxley
Admirável Mundo Novo
(Globo)

sexta-feira, maio 25, 2007

e não é?

O tempo voa, como diz Gustave. A gente acha que é segunda-feira e já estamos na quinta. O outono termina, e de repente estamos em pleno verão. Toda vez que Robert aparece para me perguntar se não é preciso limpar a chaminé (Robert é muito bom, e me cobra a metade do que cobra dos outros inquilinos) percebo que o inverno está, como se diz, batendo na porta. Por isso não lembro muito bem quanto tempo havia passado até que vi monsieur Rosay outra vez.

Juilo Cortázar,
Os bons serviços -- As armas secretas
(José Olympio)

quarta-feira, março 28, 2007

de presente

"Nossas loucuras são as mais sensatas emoções. Tudo o que fazemos deixamos de lembrança para os que sonham um dia ser como nós: felizes."


os presentes a gente não pergunta de onde vêm.

sexta-feira, outubro 20, 2006

vários Casares

-- Agora pra casinha. Ou ainda quer dar uma volta?
-- Uma volta? Me leve a Biarritz pra dançar.
-- Com tudo o que comemos? Seu quarto e sua cama a esperam. Não a atraem?
-- Nunca me atraem. Me deprimem. Conhece maior depressão que a de um quarto de hotel? Ou a da casa da gente? Gosto que me levem a passear. De noite, de madrugada, sou andarilha como os gatos. A única coisa que me deprime um pouco é o café com leite, pão e manteiga de manhã cedinho, em um bar recém aberto, as cadeiras ainda com os pés para cima sobre as mesas e um empregado esfregando o pios; mas como isso é uma prova de que passei a noite fora de casa, até que tolero bem.

(Todas as Mulheres São Iguais)

quarta-feira, junho 07, 2006

sábio Santiago

O velho pensava sempre no mar como sendo la mar, que é como lhe chamam em espanhol quando verdadeiramente o querem bem. Às vezes aqueles que o amam lhe dão nomes volgares, mas sempre como se fosse uma mulher. Alguns dos pescadores mais novos, aqueles que usam bóias como flutuadores para suas linhas e têm barcos a motor, comprados quando os fígados dos tubarões valiam muito dinheiro, ao falrem do mar dizem el mar, que é masculino. Falam do mar como de um adversário, de um lugar ou mesmo de um inimigo. entretanto, o velho pescador pensava sempre no mar feminino como se fosse uma coisa que concedesse ou negasse grandes favores; mas se o mar praticasse selvagerias ou crueldades era só porque não podia evitá-lo. "A lua afeta o mar tal como afeta as mulheres", refletiu o velho.

Ernest Hemingway
O Velho E O Mar
(Folha de S.Paulo)

finalmente Hemingway

Ele era um velho que pescava sozinho em seu barco, na Gulf Stream. Havia oitenta e quatro dias que não apanhava nenhum peixe. Nos primeiros quarenta, levara em sua companhia um garoto para auxiliá-lo. Depois disso, os pais do garoto, convencidos de que o velho se tornara um salao, isto é, um azarento da pior espécie, puseram o filho para trabalhar noutro barco, que trouxera três bons peixes em apenas uma semana. O garoto ficava triste ao ver o velho regressar todos os dias com a embarcação vazia e ia sempre ajudá-lo a carregar os rolos de linha, ou o gancho e o arpão, ou ainda a vela que estava enrolada à volta do mastro. A vela fora remendada em vários pontos com velhos sacos de farinha e, assim enrolada, parecia a bandeira de uma derrota permanente.


Ernest Hemingway
O Velho E O Mar
(Folha de S.Paulo)